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Corisco

(LP, OAR 2021, digital, vinil 12″ azul transparente)

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Bonifrate – Corisco (Press release PT, Roll down for English version)
Por Robert Ham (adaptado para português)

Enquanto o mundo começa vagarosamente a sair da névoa que nos rodeou ao longo do último ano, pode ser surpreendente perceber onde nos encontramos. Tantas pessoas no planeta têm se sentido completamente à deriva. Felizes por finalmente conseguirem avistar um pedaço de terra, porém estranhas ao novo ambiente que nos cerca.

É numa sensação semelhante que Bonifrate se apoia em Corisco, sua mais nova aventura solo, lançada digitalmente e em vinil pelo selo estadunidense OAR, casa dos Boogarins e do duo Guaxe, formado por Bonifrate e Dinho Almeida. O músico carioca radicado desde pequeno em Paraty reuniu as canções de seu novo álbum, segundo ele mesmo, “tentando interpretar o mundo ao redor, e nele se sentindo perdido ou encontrado, mas sobretudo perdido”.

Enquanto isso poderia sugerir um álbum indigesto, ou ao menos triste, pesaroso, a ser apreciado em pequenas doses, Corisco encontra Bonifrate habilidosamente transitando entre diferentes correntes e atmosferas com surpreendente fluidez do começo ao fim. “Corisco (Parte 1)”, por exemplo, é uma jam mega distorcida que beira o thrash-metal, inspirada em parte na visão de uma tempestade elétrica pela janela de sua casa, a parte central de uma suíte que começa com um singelo haikai meteorológico (“Vênus”) e termina com um contundente manifesto anti-imperialista (“Tela azul”). “Lunário” capta Bonifrate em sua versão mais pastoral e onírica, ecoando em parte o ambiente sonoro de Seres Verdes ao Redor (Supercordas, 2006) e de Os anões da Villa do Magma (2005). “Cara de pano” é uma suíte pop que atravessa musicalmente a história do rock dos anos 50 até os 70 em apenas três minutos.

Talvez o aspecto mais impressionante de Corisco é que foi integralmente gravado por Bonifrate sozinho (com exceção da participação da cantora e compositora Betina em “Grande Nó”). Esse tem sido o método da loucura musical do artista desde o seu primeiro EP, Sapos Alquímicos na Era Espacial, de 2002, mas enquanto essas primeiras experiências de Bonifrate foram produzidas em baixa fidelidade num gravador K7 de quatro canais, nos anos seguintes houve um perceptível progresso na qualidade das gravações em álbuns bem recebidos como Um Futuro Inteiro (2011) e o recente Mundo Encoberto (2019).

Corisco se sobressai, em parte, porque Bonifrate resolveu usar menos instrumentos MIDI e loops prontos desta vez, se limitando a gravar instrumentos analógicos e uma bateria de verdade. Essa escolha levou o bardo de Paraty a agregar seu amigo e companheiro de Supercordas, Diogo Valentino, a mixar o novo material. “Eu achei que demandaria um processo de mixagem mais sofisticado do que o meu próprio”, diz Bonifrate, “já que os sons são mais crus e diretos do que nunca”. O resultado é formidável, uma rica paleta de cores musicais que inundam e preenchem o campo auditivo.

A abordagem multifacetada das canções de Corisco se estende aos seus aspectos líricos. A incerteza filosófica de “Rei Lagarto” contrasta com a leveza esperançosa de “Lunário” ou “Corisco (Parte 2)”, ambas bastante distintas das visões distópicas de “2054” ou “Grande Nó”.  

Corisco pode ser uma representação imperfeita de nosso estado mental pandêmico, enquanto deslizamos nossos dedos pelos feeds das redes, soterrados de más notícias, tentando enxergar o que há além do “túnel ausente de sonhos” do presente, como define um verso de “Lunário”. 

Para um álbum construído sobre bases musicais de décadas passadas, Corisco soa como algo inteiramente moderno.

Ficha Técnica:

Escrito, produzido e gravado por Bonifrate em casa no Sítio do Dragão, Corisco, Paraty, RJ, Brasil, entre 2016 e 2020.
Mixado por Diogo Valentino em São Paulo.
Masterizado por Dan Millice.
Betina Rodrigues canta em “Grande Nó”.
Arte em cianótipo de Antonia Regina Moura.
Agente: Katia Abreu.

Bonifrate – Corisco (Press release)

by Robert Ham

As we slowly make our way out of the fog that consumed the world over the past year, we may be surprised at where we find ourselves. So many people on this planet have been feeling completely unmoored and adrift—happy to see the shore but unfamiliar with our surroundings.

That’s the sensation that Pedro Franke leans into on Corisco, his latest solo venture recorded under the name Bonifrate. The Brazilian musician wrote this suite of psych-pop songs, as he puts it, “trying to read the world around us, feeling lost or found in it. Mostly lost.”

While that would suggest a gauzy, hard to grasp album, or at least a sorrowful one that can only be appreciated in small doses, Corisco finds Franke mastering many different moods and flows with deceptive ease from start to finish. “Corisico (parte 1),” for example, is a fuzz-laden garage pop jam that Franke says was inspired, in part, by watching a growing electrical storm outside his window. “Grande nó” damn near beats Spoon at their own musical game with its bouncy rhythm and deeply considered atmospherics. And “Cara de pano” is a multi-part anthem that runs through a quick history of rock music from the ’50s to the ’70s in one three minute dose.

Perhaps the most impressive element of Corisco is that the album was recorded by Franke on his own. That’s been the method to Bonifrate’s musical madness from release of his first EP Sapos Alquímicos na Era Especial back in 2002. But while that first expression from Franke was done in lo-fi fashion on an old four-track recorder, he’s been upping his game considerably since, with well received albums like 2011’s Um Futuro Inteiro and 2019’s Mundo Encoberto.

Corisco stands out, in part, because Franke decided to use fewer MIDI instruments and loops this time around, sticking to analog instruments. That choice led Franke to grab his friend and bandmate in Supercordas, Diogo Valentino, to help mix this new material. “I reckoned it needed a more sophisticated mixing process than my own,” Franke says, “since the sounds are rawer and more direct than ever.” The results are fantastic, trading the tape hiss of the past with a rich palette of music colors that flood the stereo field.

Franke’s multi-layered approach to writing the music for Corisco extends to his lyrical concerns as well. He shifts from the melancholic uncertainty of opening track “Rei Lagarto” to the more hopeful potential of “Casiopeia”; from the dystopian visions of “2054” and “Grande nó” to the brighter visions of “Corisco (Parte 2).”

Corisco may then be a perfect representation of our pandemic state of mind as we flick between browser tabs, scroll through an array of messages in our social media feeds, and switch from the dark and light in our binge watching fare. For an album that takes its musical cues from decades’ past, Corisco sounds and feels entirely modern.

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